Além de Helsinque e rumo à alma da Finlândia

Ao sair da estação de Tampere, a primeira coisa que sinto é a energia. Há mais pessoas ao redor, e parece que há um burburinho no ar. Tampere tem uma atmosfera de cidade antiga e industrial. Existem muitos armazéns de tijolos vermelhos, fábricas antigas e chaminés imponentes, com uma pitada de Art Déco.

"Isso me lembra Manchester", pensei ao chegar, apenas para ter isso confirmado por um guia que mencionou que Tampere é conhecida como a "Manchester da Finlândia". Como sua prima inglesa, ela é vibrante e cheia de bares, clubes, casas de shows e esportes. Existem galerias de arte e, claro, o único Museu Moomin do mundo. Além disso, Tampere é a capital da sauna da Finlândia.

• Faça uma sauna e termine com um mergulho frio. É uma parte essencial da cultura finlandesa. E onde quer que você vá, haverá sauna. Experimente a Saunaravintola Kuuma, à beira do rio, e admire a vista do porto antes de mergulhar nas águas revigorantemente frias, ou experimente a Rajaportti, a sauna pública mais antiga da Finlândia. 
• Visite o Museu Moomin e explore o mundo criado na mente da autora e ilustradora/artista mais famosa da Finlândia, Tove Jansson. A exposição cativante inclui cópias de textos originais, modelos maravilhosos criados pela parceira de Tove e réplicas em tamanho real de cenas dos Moomins. É mágico tanto para crianças quanto para adultos. 
• Passeie pela área de Finlayson, uma fábrica de algodão de tijolos vermelhos que agora abriga lojas, cinemas, cafés, restaurantes e galerias de arte e recebe uma variedade de eventos ao longo do ano.  

No coração da Região dos Lagos da Finlândia (onde existem cerca de 188.000 lagos em todo o país) fica a cidade de Jyväskylä. De pé no deck de observação da Torre Vesilinna, olho ao redor e percebo como Jyväskylä é dominada pela natureza. Três lagos cercam a cidade, e as colinas entre eles são cobertas de árvores. Nenhum lugar parece estar muito distante da natureza, e o ar é sempre fresco.

Minha guia de natureza, Katri, me leva à Trilha Natural Haukanniemi, que é totalmente acessível. Em poucos minutos, deixamos para trás a agitação da vida urbana e ouvimos o barulho das árvores balançando e dos pássaros cantarolando. Katri acende uma fogueira e, antes que eu perceba, estamos saboreando um almoço fresco de legumes, cogumelos silvestres e peixe. Delicioso!

• Contrate um guia de natureza experiente e aventure-se pela natureza selvagem, onde você poderá sentir a imensidão do campo. 
• Visite o Museu Alvar Aalto. O arquiteto, mundialmente famoso, chamava Jyväskylä de lar, e o museu oferece um vislumbre de sua vida e de seu impacto na arquitetura global. 
• Faça uma sauna no conforto e modernidade do Satama Viilu e delicie-se com uma bela refeição no restaurante da sauna ou — para os mais aventureiros — alugue uma sauna flutuante para a tarde e navegue até o lago. 

No extremo leste da Finlândia fica a capital carélia de Joensuu. No dia da minha chegada, o sol brilha intensamente e reflete no rio Pielisjoki, que atravessa o coração da cidade. Aqui, mais uma vez, há uma sensação de espaço e proximidade com a natureza.

Enquanto seguia de barco a vapor pelo rio, percebi o quão vasto é o espaço da Finlândia. As praias são pontilhadas de casas de veraneio que parecem um refúgio idílico. O centro de artesanato Taitokortteli me proporciona uma manhã passeando por boutiques em busca de presentes; também é onde participo de uma oficina de costura que reforça minha convicção de que não sou uma pessoa prática.

• Faça um cruzeiro pelo rio Pielisjoki a bordo do SS Sinivoukko, de propriedade e gestão familiar, para apreciar as paisagens selvagens da Finlândia.

• Inscreva-se em um curso de confecção de tortas da Carélia no Martta Café, na Praça do Mercado de Joensuu, e leve suas iguarias caseiras para um piquenique à beira do rio. 

• Visite o animado cais de Jokiasema para almoçar e alugue alguns caiaques com o fantástico Matti em Kalastusretket Joensuu.

De volta a Helsinque, minha viagem pelo sul da Finlândia está completa — mas ainda tenho alguns dias para explorar a capital da Finlândia, a segunda cidade mais setentrional do mundo.

Há muita arte e criatividade na Finlândia, e talvez nenhum outro lugar demonstre isso melhor do que a Ilha Vallisaari. Peguei uma balsa para explorar a antiga base militar e o complexo de bunkers da ilha, que agora é uma instalação de arte e está sediando a Bienal de Helsinque. Percorri os caminhos e trilhas pela floresta e me deparei com estátuas tubulares, esculturas perfumadas e bunkers escuros com plantas injetadas com bioluminescência.

De volta à cidade, explorei restaurantes e cafés ao longo das ruas de Helsinque, repletas de edifícios Art Nouveau e Neogóticos, passando por locais como a grandiosa Catedral Uspenski. Como um último presente, peguei o barco para uma última sauna na Ilha Lonna e uma visita ao seu delicioso restaurante.

• Helsinque é uma cidade repleta de galerias e já recebeu muitos artistas famosos. O Museu de Arte de Helsinque (HAM) e as instalações da Ilha Vallisaari são ótimos exemplos das muitas experiências criativas que você pode ter.

• Passe uma tarde relaxante na Ilha Lonna desfrutando da sauna e mergulhando no mar. Depois, vá até o terraço do restaurante e bar e deixe o estresse e a tensão irem embora. 

• Visite a Praça do Mercado e explore as barracas de comida e artesanato ao ar livre que vendem frutas, legumes e flores da estação. O evento ocorre durante os meses de verão, com vista para a Catedral de Uspenski, a Catedral de Helsinque, a Prefeitura de Helsinque e o Palácio Presidencial.  

A Finlândia é um dos países mais acessíveis em que já visitei. As informações estão geralmente disponíveis, e as opiniões da sociedade sobre as práticas de inclusão são positivas e voltadas para o futuro. Do ponto de vista prático, os bondes nas cidades têm acesso direto e os ônibus são iguais, ou equipados com rampas com lugares reservados para usuários de cadeira de rodas. A maioria das estações ferroviárias oferecem acesso acessível e assistência, embora isso possa variar no seu trajeto; é melhor verificar antecipadamente com a empresa nacional de trens VR. Todos os operadores com quem falei eram fluentes em inglês.

Hotéis como as redes Scandic e Sokos oferecem quartos totalmente acessíveis. Em linhas gerais, você pode encontrar informações úteis em sites de hospedagem. Algumas atrações turísticas têm acesso restrito, o que pode ocorrer em determinados cruzeiros. Vale sempre a pena conferir com antecedência. 

Dez dias transformaram minha compreensão do que a Finlândia oferece além de sua capital. Esta não foi apenas uma viagem pela geografia, foi uma aula magistral sobre como um país pode surpreender quando nos aventuramos além do óbvio.

O ritmo dos trens finlandeses se tornou uma meditação enquanto eu balançava suavemente por florestas infinitas, clareiras repentinas revelando lagos espelhados e breves vislumbres de chalés vermelhos de verão aninhados entre bétulas. Ao contrário dos vagões lotadas da Europa Ocidental, os trens finlandeses ofereciam espaço para respirar e existir sem o barulho constante do excesso de turistas.

Cada cidade revelou uma faceta diferente da alma finlandesa. Em Turku, a reserva finlandesa desapareceu completamente durante o festival medieval. No Saunaravintola Kuuma, em Tampere, uma sensação de vulnerabilidade criou uma comunidade instantânea, sem necessidade de uma língua comum quando todos estão ofegantes após um mergulho em água gelada. Comer alimentos colhidos em uma área arborizada e serena à beira de um lago na floresta, nos arredores de Jyväskylä, enquanto uma família ensinava seus filhos pequenos a assar marshmallows em garfos, me deu uma visão da proximidade com a natureza e da comunidade na Finlândia.

Mas talvez minha viagem tenha sido resumida ao conversar com a efusiva Helena, coproprietária dos maravilhosamente acolhedores Lietsu Boutique Aparthotels.

"A Finlândia não se revela rapidamente", disse ela. "Mas quando acontecer, você nunca vai esquecer".

Para outros Interrailers que buscam algo além do circuito batido Amsterdã–Berlim–Praga, a Finlândia oferece espaço em todos os sentidos. Meu passe Interrail pode ter expirado, mas meu caso de amor com a Finlândia está apenas começando.